Sobre o Projeto

A presente plataforma cartográfica para mapeamento de chacinas policiais surge como fruto de uma parceria entre o GENI/UFF, o Projeto Mirante e as Defensorias Públicas estaduais - sendo estas, inicialmente, dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro - com o objetivo de elaborar e monitorar a cartografia das principais ações letais por agentes do Estado, cujos números são considerados alarmantes em face da prerrogativa estatal de garantia da lei e da denominada "política de segurança pública".

A produção de uma plataforma cartográfica constitui-se como ferramenta de pesquisa e produção contínua de dados de operações policiais no Brasil, a fim de oferecer uma visualização territorializada das operações mais letais, examinar suas dinâmicas operacionais e padrões de atuação marcados por altos índices de letalidade e contribuir para a discussão acerca do controle democrático da atividade policial.

Objetivos Gerais

Pretende-se colaborar com a construção de práticas de policiamento que observem os ditames legais do ordenamento democrático do país e o respeito aos direitos humanos, com a responsabilização dos agentes e instituições que exacerbem suas atribuições, fazendo uso abusivo da força, e com a proteção e reparação aos familiares de vítimas.

  • Mapear chacinas policiais e operações policiais com altos índices de letalidade em âmbito nacional
  • Construir uma cartografia colaborativa a partir de dados produzidos conjuntamente com pesquisadores, institutos de pesquisa, organizaões de direitos humanos e instituições do sistema de justiça.
  • Traçar um panorama brasileiro da letalidade policial e dos altos números de mortes que resultam em chacinas ou mega chacinas policiais.
  • Consolidar a memória coletiva e organizar os dados dispersos sobre as inúmeras mortes ocasionadas por agentes estatais
  • Preservar o registro de severas violações de direitos que atingem, sobretudo, a população negra e moradores de favelas e periferias
  • Fomentar e qualificar o debate em torno da necessidade de transformações nas políticas de segurança pública.
  • Subsidiar as pautas e debates acerca dos mecanismos de controle da atividade policial e a formulação de medidas de reparação aos familiares de vítimas de violência de Estado.
Categorias de Análise

Para a construção deste mapeamento foram monitoradas algumas categorias de análise, presentes na maior parte dos casos, tais como:

  • A localização geográfica das ocorrências
  • O perfil das vítimas
  • O uso (ou não) das câmeras operacionais portáteis(COPs) pelos policiais
  • As condições da produção de provas materiais nas investigações, como os exames periciais realizados pela polícia e complementares pelo Ministério Público - tais como a perícia de local, laudo de confronto balístico, laudo de necropsia, entre outros.
  • A dinâmica dos fatos a partir dos diversos relatos testemunhais no processo, evidências e provas produzidas
  • Levantamento da cobertura jornalística dos casos.
Incidência no Sistema de Justiça Internacional

Para além dos objetivos mencionados acima, o presente mapeamento busca também incidir de forma estratégica no sistema de justiça, principalmente no âmbito regional da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Considerando que a elevada letalidade policial no Brasil frequentemente é legitimada ou negligenciada pelo próprio Estado, torna-se fundamental produzir evidências e dados que possibilitem sua responsabilização por meio do litígio em esferas nacionais, e de forma suplementar, internacionais.

Conceito de Chacina

Etimologicamente a palavra chacina significa o ato de esquartejar e salgar porcos, que denota a desumanização dos indivíduos que são mais vitimados pelas polícias e pelos conflitos entre grupos armados, face manifesta da aniquilação das vidas de pessoas pobres, negras e jovens no país. Em sentido análogo, o termo é empregado no Rio de Janeiro em sua dimensão política pelos moradores de favelas, a fim de classificar os massacres de civis, cujas vidas são colocadas em risco em seu cotidiano por meio de operações policiais.

Caso Inaugural da Plataforma

Como primeiro mapeamento realizado pela equipe de pesquisadoras/es para impulsionar a plataforma, foi escolhido o caso da Operação Escudo, ocorrida entre os meses de julho e setembro de 2023 na Baixada Santista, em São Paulo, que resultou em 28 mortes e 2 lesões gravíssimas.

Expansão Nacional

Almeja-se que a metodologia aplicada neste mapeamento possa ser expandida para casos de outras regiões do país, permitindo, em um futuro próximo, a construção de uma cartografia nacional que ofereça uma visão abrangente e articulada sobre essas dinâmicas de violência, fortalecendo a luta por justiça e por uma segurança pública comprometida com os direitos humanos.

Contato

Para mais informações, sugestões, colaborações e dúvidas sobre o projeto, entrar em contato com pesquisa.geni.gso@id.uff.br. Site desenvolvido por MACAPE Pesquisas e Consultoria em Tecnologia Ltda.

Instituições Parceiras

GENI/UFF
GENI/UFF

O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI) da Universidade Federal Fluminense é um centro de pesquisa dedicado ao estudo da violência, criminalidade e políticas de segurança pública, com forte compromisso com a incidência no debate público. Suas parcerias com organizações da sociedade civil e órgãos públicos são centrais para produzir estudos que contribuam para o debate público e a tomada de decisões políticas baseadas em dados e evidências científicas. Desenvolve metodologias específicas para análise de operações policiais e letalidade policial, contribuindo para o mapeamento de chacinas policiais.

Projeto Mirante
Projeto Mirante

O Projeto Mirante é uma iniciativa multidisciplinar que desenvolve metodologias e tecnologias para a investigação em casos de violência institucional, a partir de uma parceria com defensorias públicas, universidades e organizações da sociedade civil. Com base nos direitos humanos e no diálogo com vítimas e familiares, o projeto realiza análises forenses, produz dados e evidências, elabora relatórios técnicos e contribui para o acesso à justiça, à memória e à reparação, articulando pesquisa, atuação jurídica e incidência em políticas públicas.

Defensoria Pública SP
Defensoria Pública de São Paulo

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo atua na defesa dos direitos fundamentais da população em vulnerabilidade, incluindo vítimas de violência policial e seus familiares. Contribui com acesso a Procedimentos Investigatórios Criminais (PICs) e Inquéritos Policiais, além de atuar estrategicamente no sistema de justiça nacional e internacional.

Defensoria Pública RJ
Defensoria Pública do Rio de Janeiro

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro contribui com expertise em litígio estratégico em direitos humanos e acompanhamento de casos de violência policial. Atua na defesa dos direitos das vítimas e familiares, fornecendo dados jurídicos e apoio técnico para o mapeamento de casos de letalidade policial no Estado.

Instituições Colaboradoras

Olhar Marginal
Olhar Marginal

O Coletivo Olhar Marginal é um grupo independente que atua na Baixada Santista desde 2020, com foco na pesquisa de imagens produzidas nas periferias da região. Por meio de múltiplas linguagens da imagem como fotografia, vídeo e artes visuais , desenvolve ações formativas, investigações visuais e projetos colaborativos que fortalecem a memória e as narrativas dos territórios periféricos. Uma de suas principais frentes é a criação de redes entre artistas visuais da Baixada Santista, promovendo trocas, articulações e produções que partem das vivências e realidades locais.

Instituto Procomum
Instituto Procomum

O Instituto Procomum (IP) é uma organização da sociedade civil fundada em 2016, que atua na promoção da inovação cidadã por meio de metodologias de participação política voltadas à construção de soluções coletivas e comunitárias. Acreditamos que outro mundo é possível, um mundo estruturado pelo afeto, pela cooperação, pela colaboração e pela defesa da vida em todas as suas formas.

Instituto Elos
Instituto Elos

O Instituto Elos é uma organização da Baixada Santista, de atuação internacional, que em três décadas se especializou em atividades de assessoramento técnico e formação focadas em tecnologias sociais que se baseiam no fortalecimento de vínculos de pessoas e comunidades, em projetos de desenvolvimento social, garantia de direitos e acesso às políticas públicas.